Uma agenda não colonial para o estudo da infância: subjetividades públicas e ação no mundo comum

A divisão público-privado coloca questões relevantes para o estudo da infância no contemporâneo. A criança, a partir da Modernidade, foi objeto dos cuidados e proteção privatizados no âmbito da família e da escola.

Ao se demandar uma subjetividade pública apoiada nas qualidades de racionalidade, independência psicológica e autonomia para o exercício pleno da cidadania, se excluiu a criança da participação em diversas esferas da vida pública, sob a égide de sua proteção. Neste projeto de pesquisa, objetiva-se colocar em questão tal segmentação entre público e privado, apoiada em ‘topos’ distintos, assim como as demandas que contemporaneamente se exigem para a participação mais inclusiva de crianças na vida social. Pretende-se, portanto, empreender uma analítica da ‘subjetividade pública’ de crianças a partir da noção de ação no mundo comum. A partir de uma perspectiva que compreende a ação como resultado dos processos de construção de uma realidade negociada e compartilhada entre sujeitos diferentes, que são constituídos neste mesmo processo, pretende-se compreender os novos emergentes públicos da subjetivação de crianças no contemporâneo. Novas gramáticas intergeracionais são aí produzidas que problematizam a naturalização da hierarquia estabelecida por idade. Ao propor a noção de politização dos conflitos entre crianças e adultos, este projeto visa compreender os deslocamentos contemporâneos das relações intergeracionais, tendo em vista uma agenda não-colonial para o estudo da infância. Esta, inspirada no questionamento da dominação que sempre busca formas insidiosas de legitimação e aceitação, relativiza as narrativas soberanas e autocentradas e põe em perspectiva o diálogo entre “universalismos”.